Pois é, vou pra Califórnia! Não sei se viverei a vida sobre as ondas, nem se meu destino é ser Star. Mas eu vou!
Nesse trâmite de procurar famílias no GAP e esperar um contato pela Cultural Care, encontrei uma família maravilhosa de Los Angeles/ Califórnia.
Foram dois encontros (pessoalmente, o que é raro), diversos e-mails, algumas ligações e ainda teremos muito contato daqui até minha chegada.
O mais engraçado é que só depois de um dia e meio que minha ficha caiu. Sim, tive esse delay. Sábado tivemos um almoço com meus pais e o host dad e o “match” foi feito com as seguintes palavras: “Erica, por mim está ótimo, é você! E por você?” – “Por mim está fechadíssimo!”
E assim foi decidido o próximo ano (ou próximos dois anos) da minha vida. Um almoço num sábado de sol.
Ainda fui para praia sábado à noite e voltei no final do domingo. Foi quando percebi que daqui um mês já não estarei mais aqui.
Fechei meus olhos e apurei todos meus sentidos. Senti o vento da estrada batendo no meu braço e rosto. Escutei meus amigos falando no carro.. gravei o tom de suas risadas.
Em casa, desde a portaria do prédio, vim sentindo o cheiro de tudo. O jardim, o elevador, a cozinha, a sala. Encontrei com a minha mãe sorrindo no corredor ao me ver. Essa face e esse sorriso sim, gravei no coração e nunca nada vai apagar.
Dei um beijo nela, senti o cheirinho do cabelo que tinha acabado de sair do banho. Vi meu pai assistindo noticiário, deitado na cama. Ele sempre foi mais sério, mas dessa vez me deu um “boa noite filha” tão cheio de carinho que fez meu coração se alegrar ainda mais.
Entrei no meu quarto, respondi o e-mail do host dad (não coloco nomes pois não pedi autorização para isso). Olhei minhas coisas, ainda cheguei a conversar com uns amigos.
Depois encontrei uma carta que minha mãe havia deixado em cima da minha mesa. Nela tinham algumas coisas para fazer antes de partir. (óculos novos, renovação do passaporte espanhol, etc.)
E no final da carta, depois dos afazeres, disfarçado como um dos itens, os seguintes dizeres: “Te amo filha querida. Já estou com saudades, mas vou superar porque você vai ser feliz e se descobrir. Vou te ajudar em tudo o que precisar e estiver ao meu alcance. Vou te apoiar porque confio em você.”
Nem preciso dizer que morri de saudades antecipadas (sim, existe!) depois de ler isso.
Levantei, abracei um travesseiro e comecei a perceber tudo ao meu redor. Todo meu templo de amor e carinho que construímos até agora, eu e minha família.
Observei todas as fotos no mural, meu violão que sempre esqueço de treinar mas que sou louca pra dominar as notas dele.
Minha cama, que foi o reduto de muitas noites de choro e de alegria. Sempre compartilhadas com a minha mãe ou minha amada irmã mais velha.
Depois fui até o quarto dos meus pais, os assisti dormindo. Vi a fragilidade do ser humano. Construímos uma vida, criamos os filhos e depois eles vão embora, para descobrir o mundo. Bem como os pássaros, que saem do ninho e aprendem a voar sozinhos.
Estou começando a aprender a bater minhas asas.
Ao tirar meus piercings, senti que estava me despindo da minha adolescência. Deixando para trás uma fase da minha vida. Mas com muito amor, fiz isso olhando para trás e me orgulhando de tudo o que fui até agora.
Todos os tombos que levei e depois aprendi a me levantar. As amizades que cultivei. O amor incondicional da minha família, a nossa base super fortalecida que conseguimos criar.
É, amores. Eu vou pra Califórnia... de cabeça erguida, feliz, orgulhosa do meu passado. Ansiosa com o presente e muito, muito DISPOSTA pro meu futuro!